quarta-feira, 7 de abril de 2010

José Serra deixa cargo manchado por autoritarismo e repressão

Professores de São Paulo são agredidos pela Polícia Militar em manifestações e governo do estado insiste em não dialogar com a categoria

Ao renunciar seu cargo no governo de São Paulo para se candidatar à Presidência da República, José Serra deixa também marcas de horror na democracia brasileira. Professores grevistas foram agredidos pela Polícia Militar nas últimas manifestações e ainda sofrem represálias que ameaçam a perda do cargo. Desde o início da paralisação não houve abertura de um canal para negociação e muito menos a busca de uma alternativa pacífica para a solução dos conflitos.


Para o Presidente da CNTE Roberto Leão, o uso da violência contra trabalhadores é uma atitude autoritária que fere os direitos humanos. “Hoje, ações como essa, em um Estado Democrático e de Direito, são inaceitáveis”, enfatiza Leão, ao acrescentar que “a interferência autoritária não vai desmobilizar os professores de São Paulo, mas servir para unir ainda mais a categoria a lutar contra a destruição da educação pública do Estado”.

Em greve desde o dia 8 de março, os manifestantes sofreram atos de violência por parte da polícia militar do estado, principalmente na manifestação ocorrida no dia 26 de março, quando 16 pessoas ficaram feridas por ataques de bombas de efeito moral e golpes de cassetetes. “Diversos professores foram feridos com a violenta atitude da polícia militar, que covardemente utilizou vários instrumentos de repressão contra a categoria que, pacificamente, realizavam sua manifestação”, diz o documento da Apeoesp, que orienta os professores feridos a procurarem os advogados do Sindicato e das subsedes com provas das lesões sofridas, relatório e receituário médico, entre outros.



A Apeoesp denuncia também que os professores que aderiram ao movimento estão sendo ameaçados com perda de emprego. Segundo a entidade, eles precisam formalizar através de documento que estão em greve “para que não restem dúvidas de que a ausência ao trabalho está se dando em função da adesão à greve e não por outro motivo qualquer”. O departamento jurídico da Apeoesp tem recebido informação de que diversas chefias estão comunicando formalmente os professores de que eles teriam extrapolado o limite de 15 faltas consecutivas, afirmando que estes professores estão sujeitos a responder processo administrativo por abandono de função.

Ação truculenta da polícia militar de São Paulo resulta em 16 manifestantes feridos

Em 26 de março, professores reunidos, em frente ao estádio do Morumbi, tentavam chegar aos portões do Palácio dos Bandeirantes, isolado pela Tropa de Choque, a Cavalaria e a Força Tática da Polícia Militar. O protesto foi reprimido com jatos de spray de pimenta disparados por um helicóptero da PM contra a multidão, que enfrentou também bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes.

Entre os16 feridos, o professor Carlos Ramiro de Castro, vice-presidente da CUT, ferido na testa com estilhaços de bombas quando tentava negociar com os policiais, e os professores de História, Severino Honorato da Silva e Luis Cláudio de Lima. “Foi horroroso. Os policiais vieram com muita violência. Foi bomba para todo lado”, lamenta Carlos Ramiro.

Outros episódios envolvendo a greve dos professores revelam a face autoritária e truculenta da gestão do ex-governador José Serra:

Dia 29 de março - um grupo de aproximadamente 200 professores foi impedido de acompanhar a inauguração de uma alça de acesso da Estrada Mário Covas entre os municípios de Itaquaquecetuba, Suzano e Poá. Houve bloqueio policial e agressões contra os professores.

Dia 31 de março - a Polícia Militar ameaçou o motorista do carro de som que seria utilizado na manifestação do funcionalismo público estadual e o obrigou a retirar o veículo das imediações do Masp. O motorista teve os documentos apreendidos pelos policiais.

Policias militares são infiltrados nas manifestações para ferir movimento

Na última semana de março, um fato tomou amplitude nacional quando um fotógrafo da Agência Estado revelava um homem identificado inicialmente como manifestante socorrendo uma policial supostamente agredida, nas imediações do Palácio dos Bandeirantes.

Poucas horas depois, a infiltração de policiais nas manifestações dos professores foi desmascarada pelo próprio Comando da PM. O homem era, na verdade, um policial militar à paisana.

Professores descobriram que ele embarcou sem farda em um ônibus reservado a professores de Osasco que participaram da manifestação no Morumbi. Revelou-se também que o suposto ferimento da policial tratava-se, na verdade, de um mal-estar decorrente do spray de pimenta que a PM utilizou contra os grevistas.

“Estou chocado, perplexo”, afirmou Idibal Pivetta, advogado de presos políticos ao site Vi o Mundo. "É ação típica da época da ditadura. Precisamos questionar quem paga as despesas de uma polícia estadual. Somos nós, cidadãos, contribuintes, através dos impostos, que deveriam ser usados em benefício da sociedade. Não é para espionar, acompanhar manifestações dos professores que são absolutamente legais, legítimas. É inadmissível que em 2010, depois de tantos anos da queda da ditadura, o governo do Estado de São Paulo utilize esses expedientes”, explica Pivetta.

Nova assembléia geral

A categoria realiza nova assembleia na nesta quinta-feira, 8 de abril, na Avenida Paulista, seguida de passeata. Será a sexta manifestação desde o início da paralisação, sem que o governo do estado tenha aberto negociação. A categoria reivindica 34,3% de reposição, entre outros benefícios.






Fonte: com informações da Apeoesp, 07/04/2010.